Quanto melhor preparados são os herdeiros e sucessores, maiores são as chances de que o processo de sucessão seja bem sucedido.

Primeiramente é importante fazermos uma diferenciação entre a preparação de herdeiro, que é aquele que vai herdar uma parte do patrimônio deixado pelos pais, da preparação do sucessor , que é aquele que irá a ocupar as posições executivas mais altas da empresa. Tanto um como o outro devem ser preparados, e esta preparação é essencialmente a mesma até a faculdade. Só depois, quando um futuro herdeiro começa a trabalhar na empresa, é que ele vira um potencial sucessor.

Neste texto, vamos abordar esta primeira parte da preparação, que envolve tanto herdeiros como potenciais sucessores e que começa com o nascimento e vai até o primeiro emprego.

E o que é um herdeiro bem preparado? Digo que um herdeiro bem preparado é aquele que é feliz com a vida, com boa autoestima, que trabalha e tem paixão pelo o que faz, sobrevive com o fruto do próprio trabalho, tem carinho pelo negócio da família, tem noções básicas de administração do próprio patrimônio e de gestão empresarial, e finalmente, que respeita e se comunica bem com os demais herdeiros e indivíduos da família. Nota-se facilmente, portanto, que não basta envia-los para um “curso de preparação de herdeiros ou de acionistas”… O buraco é bem mais embaixo… Não é só investimento financeiro, mas principalmente, de tempo e dedicação dos pais para educar, e dos filhos, para aprender.

Por isto, o processo de preparação e desenvolvimento dos sucessores não é pontual, mas sim realizado ao longo de toda a sua vida.

A primeira, e talvez mais importante etapa desta “preparação”, começa cedo, na infância do herdeiro, com a formação de sua autoestima. Indivíduos com elevada autoestima “andam para frente” pois confiam na própria competência e habilidade. Indivíduos com baixa autoestima, por outro lado, duvidam da própria competência, e por isto, tendem a ficar estagnados, desmotivados, ou perdidos, buscando algo ou alguém, um “salvador da pátria”, que resolva o seus problemas. As experiências durante a infância são particularmente importantes para moldar a autoestima. Experiências positivas, como ser elogiado, tratado com respeito, escutado e receber apoio e amor das pessoas próximas e queridas, conduzem ao desenvolvimento de uma autoestima saudável. Por outro lado, experiências negativas tais como ser negligenciado, excessivamente criticadas, ridicularizadas, e mensagens constantes de que falhar em atividades específicas, como em esporte ou em uma matéria escolar, são fracassos de todo o nosso ser, levam ao desenvolvimento da baixa autoestima. Durante toda esta fase, os principais agentes educadores são os próprios pais. Além disso, é nesta fase que as crianças absorvem, através dos exemplos dos pais, alguns dos valores básicos da família como, por exemplo, honestidade, integridade, dedicação ao trabalho, responsabilidade, etc.

A segunda etapa desta preparação ocorre entre o final da infância e início da adolescência, e tem como objetivo criar um vínculo emocional positivo entre o herdeiro e o negócio familiar. Por isto, o “preparo” não envolve grandes responsabilidades. Normalmente, colocar os filhos para “trabalhar” algumas horas por semana fazendo pequenos serviços na empresa, e “curtir” a companhia de pais, irmãos ou primos será suficiente para gerar lembranças positivas para o resto da vida. Tive um cliente, por exemplo, que incentiva os filhos adolescentes a ajudar a empacotar e arrumar o estoque das lojas da rede da família durante o mês de dezembro. Outro me contou que o pai, fundador da construtora da família, sempre o levava junto nas vistorias que fazia nos canteiros de obra, e que enquanto o pai andava pela obra, ele ficava “brincando” com areia e cimento. Todos relatam que o sentimento de carinho pela empresa da família nasceu naqueles momentos.

A etapa seguinte inicia-se na adolescência, e tem como objetivo fazer com que o jovem adulto adquirira conhecimentos e competências que serão importantes para o seu sucesso profissional, dentro ou fora da empresa da família. Nesta etapa é muito importante que haja um diálogo aberto entre pais e filhos, sobre suas as expectativas, vocação e interesses profissionais, para que os pais, eventualmente com o apoio de orientadores profissionais, possam ajudar os filhos a aprender nas melhores instituições de ensino que estejam ao alcance da família. É muito importante que os filhos não se sintam obrigados a seguir uma carreira apenas para satisfazer a vontade dos pais, ou por acharem que terão vantagens financeiras se vierem a trabalhar na empresa da família.

Finalmente chega a hora de começar a trabalhar. Muitos, por questões de comodidade por parte dos filhos, e de controle por parte dos pais, começam a trabalhar na empresa da família logo após a formatura. Quando isto ocorre, ambos perdem muito: o filho perde a oportunidade de ter outros “professores” e chefes além do pai ou dos tios, de enxergar diferentes perspectivas, mas, sobretudo, a oportunidade de adquirir autoconfiança, de ter obtido êxito por conta própria, longe da proteção ou repressão da família. Já a família perde mais uma oportunidade de avaliar, de forma mais isenta, as aptidões profissionais de seu membro e de desenvolver um herdeiro ou potencial sucessor com novos conhecimentos, perspectivas e idéias que poderão ser extremamente úteis para o negócio no futuro. Por isto, recomenda-se incentivar os filhos a ter experiências profissionais relevantes fora da empresa. Entenda-se como relevante um trabalho com direitos e responsabilidades reais, onde possam desenvolver sua iniciativa, relacionamento com superiores e subordinados e liderança. “E sendo subordinado que aprendemos a ser chefes”, me disse um cliente certa vez.

No direito societário, herdeiro é todo aquele que é sucessor do patrimônio deixado pelo falecido, normalmente, mas não necessariamente, um parente.

Por Alexis Novellino.

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