Empresas familiares carregam normalmente um estigma: tendem normalmente a ser vistas como sendo entidades menores, desorganizadas e ineficientes. De fato, muitas, caracterizadas pelo ambiente familiar e pelo alto grau de intimidade entre seus sócios familiares, podem fazer com os mesmos confundam a esfera profissional com a pessoal, trazendo problemas familiares para dentro da empresa e assim atrapalhando seu desenvolvimento. Entretanto, sabemos que as empresas familiares são a forma predominante de empresa em todo o mundo e que um terço das maiores empresas do Brasil e dos EUA, por exemplo, são também familiares. Exemplos como Wall-Mart, Cargill e Mcgraw-Hill, dos Estados Unidos, e como os nacionais Grupo Pão de Açúcar e o Grupo Votorantin, ambos formados por famílias que prosperaram em seus negócios, não deixam de evidenciar que empresas familiares, mais do que muitas desvantagens, podem ser grandes negócios.
Compartilhar um patrimônio comum com sua família é também compartilhar seus valores e sua história, mobilizando um sentimento comum de unidade. Assim, os gestores sempre estarão ligados aos negócios não só por interesses profissionais, mas por laços afetivos. O “capital emocional” faz com que os familiares vistam a camisa da empresa muito mais intensamente do que um profissional não familiar e fora da empresa. Naturalmente, o sentimento de continuidade dos negócios e do legado familiar é o maior incentivo que os executivos familiares têm. Desde cedo vivenciaram exemplos de liderança encabeçados por seus parentes dentro da empresa. Com certeza essa lembrança servirá de inspiração pessoal para cada um e para o crescimento do próprio negócio familiar.
Uma pesquisa realizada pela BusinessWeek em parceria com a empresa de pesquisa de Chicago, Spencer Stuart, identificou que um terço das 500 empresas do S&P tem membros da família fundadora atuando na direção da empresa, e que estas empresas tiveram um desempenho superior ao das empresas não familiares. A diferença foi grande: Ao longo de 10 anos, a taxa média de retorno obtido pelos acionistas das empresas familiares foi 15,6% a.a., enquando que as não familiares deram um retorno médio de 11,2% a.a.. Ficou surpreso? Eu não. Há alguns anos, vários outros pesquisadores têm levantado e testado algumas hipóteses para explicar a sobrevivência, e em alguns casos, superioridade das empresas familiares.
O olhar de um fundador sobre o seu negócio, seu controle sobre todos os assuntos da empresa e seu envolvimento com cada funcionário e cliente faz com que o negócio ande nos trilhos. Ao contrário de uma corporação, forma de empresa não familiar em que vários pequenos acionistas são donos da e não existe um grupo dominante, a empresa familiar se destaca pelo poder do líder, ou de um pequeno grupo dominante e coeso que pode tomar decisões mais rápidas sem longos e burocráticos processos decisórios. Outro fator indicado pela pesquisa americana aponta que a lealdade dos funcionários, assim como dos acionistas e membros do conselho, que conhecem intimamente a empresa e seus familiares, faz com que as relações profissionais se tornem menos problemáticas e pequenos problemas possam ser resolvidos com mais facilidade.
O reinvestimento e a visão de longo prazo do fundador transformam as empresa familiares em projetos de muitas gerações e nos investimentos mais duradouros do mundo. Esse pode ser o maior triunfo de negócios com fundos familiares sobre empresas não familiares. A projeção de uma empresa para o futuro significa que ela sempre estará se inovando e procurando novas formas de se colocar no mercado, transformando dedicação e união familiar em lucros.
Como qualquer outro tipo de negócio, as empresas familiares apresentam vantagens e desvantagens. O que na verdade as diferencia é a capacidade dos envolvidos em trabalhar por um sonho em comum e fazer sacrifícios por ele. Ali, não estão só em jogo lucros e clientes, mas relações entre pais e filhos e a continuidade de um legado familiar.